Guia Devocional para PÁSCOA

27 mar

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Objetivo: este guia tem a finalidade de orientar irmãos para uma prática devocional direcionada para a semana da Páscoa, provendo leituras, orações, meditações e perfis de personagens que estiveram na cena da crucificação e/ou ressurreição do nosso Senhor Jesus.

Recomendações: aqueles que puderem, jejuem nesta semana. O jejum pode ser:

  1. Cortar uma refeição do seu dia (café da manhã, almoço, jantar, etc…);
  2. Cortar um tipo de alimento/bebida específico durante a semana (ex: pão, refrigerantes, doces etc…);
  3. Deixar o uso de redes sociais ou televisão num período do dia;

1º Dia – Segunda

Leituras: Gn 3:21 (Deus sacrificou um animal para cobrir a nudez (pecado) do primeiro Adão, que foi vencido no jardim do Éden); Mt 26:36-46 (Jesus, o Deus encarnado, por sua obediência, venceu o pecado no jardim do Getsêmani).

Perfil de Maria (João 19:25): uma jovem, escolhida por Deus, para ser a mãe de Jesus. Mostrou sua disposição para obedecer e cumprir os desígnios de Deus, mesmo sofrendo a incompreensão dos homens. Ela se manteve firme, servindo o Senhor e Salvador Jesus e na hora da morte do Mestre, ela se encontrava aos pés da cruz!

Meditação: Que neste primeiro dia, nosso alvo seja desligar-se de tudo que possa nos impedir de prosseguir na caminhada do Senhor. Lembremo-nos de Cristo Jesus que seguiu firme e não deixou que nada o atrapalhasse na missão dada pelo Pai de vir a este mundo e ser o nosso Salvador. Quem sabe você esteja preso nalguma situação de pecado ou de insegurança em sua vida, a caminhada rumo a Paixão e a Cruz nos pede sacrifícios. Que você comece o seu neste dia!

Oração: Senhor, percebemos que desde o jardim do Éden, Tu tens provido o sacrifício para cobrir os nossos pecados, pois a salvação sempre vem de Ti. Rendemos graças por Jesus, que de forma plena satisfez a tua justiça na cruz e nos outorgou tão grande salvação! Ensina-nos a sermos servos fieis que sempre cumprem a tua vontade! Amém!

2º Dia – Terça

Leituras: Gn 22:1-14 (Deus providenciou o sacrifício substituto para Isaque); Mt 27:33-44 (Jesus é o vicário, que assumiu o nosso lugar na cruz e não desceu dela por amor à nós!).

Perfil de Simão Cireneu (Mc 15:21/Rm 16:13): um homem que foi obrigado a carregar a cruz por um tempo, mas não foi ele que foi pendurado. Segundo a tradição, ele e sua família se tornaram discípulos e importantes colaboradores dos apóstolos do Senhor!

Meditação: Que neste segundo dia, nossa perseverança aumente. As distrações continuam batendo a porta do nosso coração, reclamando atenção, mas elas perderão forças, suas vozes emudecerão, na medida que seguirmos o nosso alvo. Assim como Cireneu, somos convidados para participarmos dos sofrimentos de Cristo. Façamos isto com alegria e com desprendimento, crendo que as breves provações não podem ser comparadas com a glória que nos foi reservada nos céus.

Oração: Senhor! Não tínhamos como pagar pelas nossas culpas e o Senhor de forma amorosa anulou o escrito de dívida que pesava sobre nós. Desde o patriarca Abraão, podemos ver que o Senhor providenciaria o substituto para nós. Ele veio, seu nome é Jesus, o Cordeiro perfeito do Pai. Obrigado, por Jesus assumir o nosso lugar na cruz! Ensina-nos a carregar nossa cruz, mas sempre sabendo que ela não se compara ao preço que foi pago por teu Filho. Amém!

3º Dia – Quarta

Leituras: Ex 12:1-13 (O sangue foi o sinal para livrar Israel do juízo de Deus); João 19:31-37 (O sangue de Jesus foi dado para livrar os eleitos da Ira vindoura).

Perfil dos malfeitores (Lc 23:39-43): Dois homens culpados por seus pecados, mas diante do Salvador, um decide não acreditar e o outro suplica por perdão. Estes homens simbolizam toda humanidade e suas possíveis respostas à Cristo: incredulidade ou fé!

Meditação: Que neste terceiro dia, nossa lembrança se volte para a grandiosidade da graça de Cristo Jesus, pois mesmo não tendo cometido pecado, ele quis nos salvar e pagar o terrível preço na cruz do calvário. Nunca pensemos que haja méritos em nós que possam ser contados ou considerados para nossa salvação, pois estes méritos sempre serão insuficientes. Que nossa caminhada pascal nos faça lembrar disto: O amamos porque Ele nos amou primeiro!

Oração: Senhor, obrigado por nos guardar e nos livrar na jornada da vida. Assim como o Senhor fez com Israel, seu povo, livrando-o pelo sinal do sangue nos portais, assim nós, tua Igreja, somos livres do mal e da condenação eterna, pois o sangue de Jesus cobre as nossas vidas! Éramos culpados, mas, por sua graça, ouvimos e respondemos ao teu chamado e, tal como o ladrão da cruz, gritamos por perdão! Obrigado por nos salvar. Amém!

4º Dia – Quinta

Leituras: Lv 9:1-7 (Os sacerdotes antigos precisavam fazer ofertas pelos seus e pelos pecados dos outros); Hb 10:1-18 (Jesus é o sacerdote perfeito que se ofereceu uma única vez para nos purificar de todo o pecado).

Perfil de João: O discípulo mais novo do Senhor, que esteve presente nos momentos marcantes do ministério de Jesus. Foi exilado por sua fé, mas manteve o seu amor ao Senhor até o fim!

Meditação: Que neste quarto dia, tendo completado a metade da jornada, lembremo-nos que nosso amor por Jesus deve ser constante. Ele não pode parar ou retroceder diante das dificuldades. João, o discípulo, foi fiel até no exílio e até a morte. Quem sabe, por sua fé em Jesus, você esteja sofrendo o exílio moderno de ser rejeitado? De ter suas opiniões ignoradas? Descanse na certeza que a verdade sempre prevalece e que o amor jamais acabará!

Oração: Senhor, quando nos lembramos do tamanho da nossa culpa e da dívida que tínhamos, percebemos que não tínhamos como pagá-la, mas rendemos louvores a Cristo, que decidiu ser o sacerdote e ao mesmo tempo a oferta para nos livrar para sempre do pecado. Amém!

5º Dia – Sexta

Leituras: 2 Cr 35:1-7 (A recordação da Páscoa e a necessidade do sacrifício); Lc 22:7-20 (Jesus celebra a Páscoa, mas logo em seguida estabelece a Nova Aliança).

Perfil de Pedro: o discípulo impulsivo, mas fiel. Que amava a Jesus, mas que precisou amadurecer em seu amor. Embora tenha negado o Senhor três vezes, encontrou perdão e graça, pois buscou o arrependimento. Mais tarde se tornou um dos principais apóstolos e, segundo a tradição, sofreu o martírio por sua fé!

Meditação: Neste quinto dia, nos aproximamos mais do nosso objetivo. Embora a noite se torne mais escura e pareça que as trevas irão prevalecer, mantenhamos a confiança que o nosso Deus sabe o que faz. Assim ocorre muitas vezes em nossas vidas, passamos momentos em que as trevas se tornam densas, mas, desde a Criação, sabemos que as trevas não podem prevalecer diante da luz. Cristo é a Luz que brilhou e ainda brilha para espantar as trevas do coração humano!

Oração: Senhor, somos falhos e muitas vezes tropeçamos em nossa caminhada, mas te amamos e queremos ser aperfeiçoados em nosso amor. Estenda sobre nós o seu perdão e cobre-nos com sua graça, pois somos filhos da nova aliança, estabelecida na cruz. Amém!

6º Dia – Sábado

Leituras: Sl 22 (Salmo messiânico que retrata os sofrimentos que o Salvador passaria); Mt 27:33-46 (Mateus mostra que Jesus passou pelo que o salmista descreveu).

Perfil de José de Arimateia (Lc 23:50-56): Não sabemos muitos detalhes de sua vida, o que sabemos é que era um homem importante, justo, honesto e que aguardava o Reino de Deus. Ao oferecer um tumulo para o corpo de Cristo, ele assume o risco de ser associado ao Senhor e ser chamado seu discípulo.

Meditação: Neste penúltimo dia, antes da ressurreição, não podemos descuidar. Os perigos e as tentações ainda persistem. Estamos perto da vitória, mas ainda não chegamos lá. Foi neste exato momento que muitos discípulos abandonaram o Senhor e voltaram para seus afazeres. Sejamos como José de Arimateia, não percamos as esperanças, mesmos naqueles momentos em que, aparentemente, o nosso Senhor não responde, não fala e não se move. A morte morrerá e a vida triunfará. Tudo se fará bonança!

Oração: Senhor, queremos ser discípulos teus em toda e qualquer situação. Ajuda-nos a demonstrarmos a cada dia a nossa fé e honrá-Lo em todos os nossos atos. O sofrimento que suportastes por amor a nós foi imenso, capacita-nos, por meio do teu Espírito, a suportamos os sofrimentos decorrentes da nossa fé e compromisso contigo. Amém!

7º Dia – Domingo

Leituras: Is 53 (O profeta, tal como uma testemunha, descreve o Servo Sofredor); Lc 24:1-12 (“Ele não está aqui, mas RESSUSCITOU”).

Perfil de Maria Madalena (João 20:11-18): a mulher que outrora dominada pelas trevas e pecados, foi alcançada pela misericórdia e graça de Cristo para tornar-se serva. Seu empenho em seguir ao Senhor e honrá-lo, durante e mesmo depois de sua crucificação, rendeu-lhe a graça de ser a primeira pessoa a ver o Senhor ressurreto.

Meditação: Chegamos ao último dia, celebremos o triunfo do Senhor! Ele vive! Nossos dias aqui na terra devem ser pautados por esta lembrança e certeza: nosso Senhor venceu! Por isso, não deixe que nada lhe tire a esperança, nem a dor, nem as injúrias, nem o medo e nem mesmo a morte pode apagar a fé daqueles que permanecem seguindo e confiando no Cristo que ressuscitou. Ele nos diz: “Eu venci!”.

Oração: Senhor, a tua obra é perfeita! O Senhor nos amou antes da fundação do mundo e ao longo da história tem demonstrado este amor, livrando e salvando aqueles que lhe pertencem. Temos a plena confiança que a morte não é o nosso fim, pois assim como Cristo ressuscitou, nós ressuscitaremos para estarmos com Ele para todo sempre. Esta é a nossa esperança, pois confiamos em Ti. Amém!

Sola Scriptura X SolO Scriptura

30 ago

ReformadoresTimothy Ward, em seu livro “Teologia da Revelação”, faz uma exposição preciosa mostrando a diferença que há entre o Sola Scriptura e o SolO (destaque para a letra “O”) Scriptura.

O primeiro está ligado aos Reformadores e, mais especialmente, a Tradição Reformada e surgiu para combater um mal que se estabeleceu na igreja na Idade Média, que passou a considerar duas fontes de revelação divina: as Escrituras e a tradição da igreja, sendo esta última transmitida oralmente ou por meio das práticas habituais da igreja. Os reformadores afirmaram que Somente as Escrituras é a revelação de Deus ao homem, somente ela é suficiente e necessária para nossa salvação. Mas, ao afirmarem isto, os reformadores não estavam rejeitando o valor e o papel da tradição, apenas afirmavam que ela não constitua uma fonte de revelação, tal como a Bíblia. Ward descreve isto bem quando escreve: “A convicção dos reformadores em relação ao Sola Scriptura é a convicção de que as Escrituras são a única autoridade infalível, a única autoridade suprema. Todavia, não é a única autoridade, porque os credos e o magistério da igreja exercem a função de autoridades subordinadas importantes sob a autoridade das Escrituras”[1].

No entanto, outro perigo surgiu no meio da igreja que foi denominado por Keith Mathison de “SolO Scriptura”, que consiste na ideia de interpretação da Bíblia sem o auxílio da tradição e do magistério. Foi o SolO Scriptura que deu abertura para o sectarismo protestante e a multiplicação de denominações. Mas Ward faz um importante alerta quando diz: “Embora muitas vezes se diga que o principal motivo desse sectarismo é o Sola Scriptura, ele não pode ser responsabilizado, pelo menos não no sentido que os reformadores dão ao termo. Aliás, eles desejavam reformar a igreja a partir de dentro e não abandoná-la. A doutrina que deu impulso às constantes divisões de denominações e igrejas não foi a sola Scriptura, mas, sim, a solO Scriptura”[2].

Igrejas sérias defendem e praticam o Sola Scriptura, reconhecendo que somente as Escrituras são a Revelação de Deus e a autoridade suprema sobre o homem, sem abrir mão do papel e valor que as tradições, magistério, credos e confissões tem como autoridades subordinadas as Escrituras. Mais uma vez, concordamos com Ward quando diz: “O sola Scriptura garante que todas essas tradições estão a serviço das Escrituras, a autoridade suprema, e não competindo com ela”[3].

[1] WARD Timothy, Teologia da Revelação, Editora Vida Nova, pg.178.

[2] Ibidem, pg.181.

[3] Ibidem, pg.183.

KEENER E HORTON: CESSARAM OS DONS DO ESPÍRITO?

8 maio

Keener_HortonFoi de grande importância para a Igreja Brasileira o 11º Congresso de Teologia Vida Nova sobre a contemporaneidade dos Dons do Espírito Santo, ocorrido em Março de 2018, cujos palestrantes principais foram os Doutores em Teologia Craig Keener e Michael Horton. Acompanhei algumas partes do Congresso pela Internet, especialmente o debate entre os dois que foi mediado de forma brilhante pelo Dr. Jonas Madureira. Aprendi muito com os posicionamentos dos palestrantes e decidi escrever este texto para realçar algumas das premissas defendidas por eles no que tange à continuidade ou não dos dons em nossos dias.

Como Pentecostal Reformado, me inclino mais para o ponto de vista defendido pelo Dr. Keener, no entanto foi de extrema importância conhecer o do Dr. Horton e perceber como este ampliou meu conhecimento sobre o tema.

Baseando-se no texto bíblico de I Coríntios 13:8-10: “O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará. Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos; quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá”, o mediador fez a seguinte pergunta: “Os dons permanecem até hoje? Como você argumentaria do ponto de vista bíblico e teológico, a permanência e a continuidade dos dons até os dias de hoje?”.

I – KEENER E SUA DEFESA DO CONTINUÍSMO

Em resposta, Dr. Keener seguiu algumas linhas de sustentação para sua defesa do Continuísmo que foram as seguintes:

REVELAÇÃO DE QUE OS DONS CESSARAM SERIA PÓS-BÍBLICA

Paulo nunca fez uma distinção entre dons naturais ou sobrenaturais. Esta diferenciação seria algo criado depois. E mais, o apóstolo considerou que a Igreja, como Corpo de Cristo, necessitava de todos os dons. Hoje, permanecemos como Corpo de Cristo e, consequentemente, carecemos ainda dos dons espirituais. Certamente que nenhum indivíduo terá todos os dons, mas o Corpo de Cristo terá todos os dons. E o amor é o instrumento pelo qual Deus nos orientará para o uso dos dons, por ser o amor algo eterno e os dons algo temporário, e por isso os dons irão passar no dia que virmos o Senhor Jesus face a face. Neste dia não precisaremos mais dos dons. Mas tal como hoje precisamos do dom do conhecimento, não para acrescentar nova doutrina, assim também precisamos dos demais dons para a edificação e sustento do Corpo de Cristo.

PROFECIAIS E DONS DE LÍNGUA

O dom de profecia é algo que ocorre em todo cânon sagrado. Nalgumas épocas mais intensamente do que em outras. Até no livro de Apocalipse (11:3) há registro de que profetas estarão exercendo este dom. Cumprindo aquilo que o livro de Atos 2:17 nos ensina que nos últimos dias, ou seja, a era que vivemos agora, nossos filhos e filhas profetizarão e terão visões. Uma diferença com relação ao Velho Testamento é que hoje este dom poderia ser aplicado a todo o povo de Deus. Desta forma, deveríamos esperar mais da manifestação do dom de profecia, em nossos dias, do que no Velho Testamento.

Com respeito ao dom de línguas, ele concorda com o Dr. Horton que este dom só deve ser praticado publicamente caso exista alguém para interpretar as línguas que são pronunciadas, porém defende que este é um dom real, o qual Paulo estimula a prática e até confessa que orava em línguas mais do que todos os irmãos. Dr. Keener faz uma analogia entre as atividades de estudar e orar, mostrando que o pregador estuda, tanto para a exposição pública da mensagem, quanto estuda para crescimento pessoal; assim, orar em público é uma das formas de abençoar a igreja e orar em línguas é um, não o único,  instrumento de edificação pessoal, e este deve ser buscado.

A RELAÇÃO DE DONS E FUNDAMENTO DOS APÓSTOLOS

Quanto ao fundamento dos apóstolos, o Dr. Keener reconhece que o fundamento de toda a Igreja foi aquele que os apóstolos estabeleceram, mas defende a ideia de que em lugares onde o evangelho precisa ser estabelecido, Deus pode usar os dons do Espírito, tais como libertação de espíritos malignos e curas miraculosas para fazer sua obra avançar. O palestrante usa citações de Irineu, do século II, que relatou casos de ressurreições de mortos em seu tempo; fala de Agostinho, que inicialmente cria que as curas haviam cessado, pois não as via ocorrer em seus círculos, mas mudou de visão, e em dois anos, sua diocese documentou mais de 70 casos de curas divinas.

Ele acredita que os sinais miraculosos não estão apenas vinculados à revelação de escrituras, mas, em certo nível, de fundamentação da evangelização em novas regiões, visando à expansão do Evangelho certamente, não à fundamentação dos Apóstolos, pois esta é a base.

II – HORTON E SUA DEFESA DO CESSACIONISMO

Ouvir Dr. Horton foi muito bom, pois ele me mostrou que quando ouvimos falar de Cessacionismo, não devemos ter em mente que é o mesmo que crer que curas e milagres não possam acontecer mais. Na verdade, é crer que elas estão subordinadas, em nossos dias, ao principal elemento de graça, que é a Palavra de Deus. Em sua resposta a pergunta “se os dons continuam em nossos dias”, Dr. Horton seguiu algumas linhas de sustentação para a defesa do seu ponto de vista que foram as seguintes:

OS DONS SUBORDINADOS AO MINISTÉRIO DA PALAVRA

A principal linha argumentativa do Dr. Horton foi a de que os dons/sinais estariam envolvidos como o início de algo, assim como os sinais realizados por Jesus seriam algo que envolvia sua identidade e sua obra. Isto pode ser observado no caso da cura do paralítico, onde Jesus o cura para demonstrar que Ele veio para perdoar pecados, ou seja, que este é o objetivo de sua missão na terra. E mesmo quando ocorreram visões, como no caso de Cornélio, o evangelho não foi apresentado pela visão, mas houve a necessidade de chamar Pedro para apresentar o Evangelho e assim, ao ouvir o Evangelho, Cornélio se torna um cristão. Dr. Horton cita o reformador Martinho Lutero que defendia a seguinte ordem das coisas para a vida do cristão: primeiro a Palavra; depois a Fé, Amor e Obras. Porque a Fé vem pelo ouvir a Palavra e assim a Fé produz o amor e as boas obras. A Palavra é a fonte de todas as coisas.

Dr. Horton também mostra que Efésios 4 (que fala da gloriosa ascensão de Cristo e a descida do Espírito Santo com todos os seus dons) revela que ministros da pregação da Palavra foram dados à Igreja a fim de completá-la por meio deste ministério. E nos textos de I Coríntios 12 e 14, o Apóstolo Paulo estaria também enfatizando o ministério da Palavra. De tal forma que se você tem uma igreja que não tem o dom da cura ou falta o dom da hospitalidade, você pode usar a Palavra para estimular isto; mas se você tem uma igreja onde não se prega a Palavra, você não tem uma igreja.

Desta forma a manifestação dos dons estaria subordinada à proclamação da Palavra/Evangelho. Deus pode curar ou dar visões para alguém com a finalidade de trazer luz para a proclamação do evangelho. Ele acredita que Deus pode fazer isto em sua soberania, mas declara que não se deve esperar isto ou até mesmo acreditar nisto como se um vulcão estivesse em atividade gerando estas coisas. Não existe um novo estágio de revelação, a Palavra de Deus é suficiente e não precisa das turbinas dos sinais milagrosos.

FUNDAMENTO DOS APÓSTOLOS E EDIFICAÇÃO DA IGREJA

Dr. Horton, complementando a sua argumentação da primazia da Palavra, usa a figura de um tribunal jurídico e faz uma analogia entre constituição e as  jurisprudências que a seguem, para falar da distinção do fundamento que os apóstolos puseram e a edificação que os ministros ordenados fazem ao longo da história da igreja. Os apóstolos criaram a base (constituição) e os ministros, que vieram após, estão construindo/edificando (criando as jurisprudências). Ele usa os textos de I Coríntios 3:10-12 e Efésios 2:19-22 diz que os apóstolos colocam os fundamentos e o ministros posteriores devem edificar em cima deste fundamento, não se deve ir além disto, para não se ensoberbecerem.

DONS DE LÍNGUAS E DONS NATURAIS X SOBRENATURAIS

Em Pentecostes (Atos 2), as línguas ali proferidas eram conhecidas. Não eram simplesmente emissão de sons sem sentido, mas a manifestação de línguas conhecidas e por isso eles ficaram maravilhados em ver Galileus falando em suas línguas as grandezas de Deus. E mesmo que isto seja diferente de I Coríntios 14, onde Paulo fala de uma linguagem espiritual, Paulo foi claro que esta língua espiritual não deveria ser praticada em culto público sem uma tradução/interpretação apropriada, sinalizando que toda espiritualidade que ultrapassasse a mente não seria espiritual. Desta forma, os dons de falar em línguas e de sua interpretação deveriam ter como alvo o progresso do evangelho, e seria contraproducente se alguém falasse em línguas, sem a devida interpretação, caso o incrédulo estivesse participando do culto.

Além disto, Dr. Horton faz uma alusão ao Teólogo Edmund Clowney para dizer que os dons sobrenaturais são dons naturais elevados à categorias de sobrenaturais por meio do Espírito, ou seja, ao invés de liberar uma cura pelos meios naturais, Deus operaria uma cura por meio da graça. Ele crê que Deus pode fazer isto por meio da sua soberania, mas tudo deve estar subordinado ao ministério da Palavra e o progresso do Evangelho.

CONCLUSÃO: Louvo a Deus pela vida do Dr. Keener e Dr. Horton. Eles promoverem um debate de altíssimo nível, mostrando como devemos dialogar sobre temas teológicos.  Dr. Horton foi aplaudido quando disse que parecia uma ironia que os dons do espírito, que tem por natureza a edificação e o fortalecimento do Corpo de Cristo, sejam usados hoje para dividir os irmãos. Foi muito precioso também ver Dr. Keener contando um testemunho pessoal sobre um problema de relacionamento que tinha com o seu pai e como orar em línguas foi fundamental para a correção desta lacuna em sua personalidade.

         Em suma, creio que tanto aqueles que se inclinam para uma visão Cessacionista como aqueles que se inclinam à visão Continuísta devem ter atenção. O primeiro no sentido de não se fechar para o agir do Espírito Santo, tendo receio que milagres aconteçam em suas reuniões; o segundo no sentido de não estimular o uso dos dons a tal ponto que haja abusos, criando situações que se tornem caricaturas do agir de Deus.

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Canal Youtube do Autor: https://www.youtube.com/channel/UC6uktE6fFEWg9l0bX-S7_LQ

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Link do debate Publicado por Edições Vida Nova:

CÂNONES DE DORT – POR JOEL BEEKE*

17 abr

1425154339159A decisão do Sínodo de Dort sobre os Cinco Pontos de Doutrina em Disputa na Holanda é popularmente conhecida como os Cânones de Dort dos Cinco Artigos contra os Remonstrantes. Consiste de afirmações doutrinárias adotadas pelo Sínodo de Dort, que se reuniu na cidade de Dordrecht em 1618 e 1619. Embora tenha sido um sínodo nacional das igrejas reformadas da Holanda, ele tinha um caráter internacional. Além dos seus sessenta e dois delegados holandeses, o sínodo tinha vinte e sete delegados da Inglaterra, Suiça, Alemanha e cinco outros países. O governo francês recusou-se a permitir que qualquer delegado francês atendesse ao sínodo, incluindo o mais notável teólogo calvinista francês da época, Pierre du Moulin (1568-1658).

O Sínodo de Dort foi realizado para resolver uma controvérsia séria nas igrejas holandesas iniciada pelo surgimento do arminianismo. Jacob Arminius (1560-1609), professor de teologia na universidade de Leiden, diferia da fé calvinista em vários pontos importantes. Depois da morte de Arminius, quarenta e três de seus seguidores apresentaram suas opiniões facciosas aos Estados Gerais dos Países Baixos. No documento, chamado de Remostrância de 1610, e mais explicitamente nos escritos posteriores, os arminianos ensinavam (1) a eleição baseada numa fé prevista, (2) a universalidade da expiação de Cristo, (3) o livre-arbítrio e a depravação parcial do homem, (4) a resistência à graça e (5) a possibilidade de apartar-se da graça. Eles pediam revisão dos padrões doutrinários das igrejas reformadas e proteção do governo para as opiniões arminianas. O conflito arminiano-calvinista se tornou tão grave, que levou os Países baixos ao risco de uma guerra civil. Por fim, em 1617, os Estados Gerais votaram 4 contra 3 a convocação de um sínodo nacional para lidar com o problema do arminianismo.

O sínodo realizou 154 sessões formais durante um período de sete meses (novembro de 1618 a maio de 1619). Treze teólogos arminianos, liderados por Simon Episcopius, tentaram atrasar a obra do sínodo e dividir os delegados, mas seus esforços se mostraram infrutíferos. Sob a liderança de Johannes Bogerman, os arminianos foram rejeitados. O sínodo desenvolveu os cânones, por meio dos quais rejeitaram a Remonstrância de 1610 e afirmaram a doutrina reformada quanto aos pontos debatidos. Esses pontos, que mais tarde se tornaram conhecidos como os Cinco Pontos do Calvinismo, podem ser resumidos como a eleição incondicional, a redenção específica, a depravação total, a graça irresistível e a perseverança dos santos.  Ainda que esses pontos não representem todo o calvinismo e sejam considerados mais corretamente como as cinco respostas do calvinismo aos pontos de erro do arminianismo, eles estão, de fato, no âmago da fé reformada, pois fluem do princípio da absoluta soberania divina na salvação de pecadores. Podem ser resumidos assim:

  1. A eleição incondicional e a fé salvadora são dons soberanos de Deus.
  2. Embora a morte de Cristo seja suficiente para expiar os pecados de todo o mundo, sua eficácia salvífica é limitada aos eleitos.

3-4. Todas as pessoas são de tal modo depravadas e corrompidas pelo pecado, que não podem exercer livre-arbítrio para com a salvação ou realizar qualquer parte dela. Por graça soberana, Deus chama irresistivelmente os eleitos e regenera-os para novidade de vida.

  1. Deus preserva graciosamente os redimidos, de modo que perseverem até ao fim, embora sejam perturbados por muitas imperfeições, enquanto buscam confirmar sua vocação e eleição.

Embora os cânones tenham somente quatro seções, falamos em cinco pontos ou títulos de doutrina porque os cânones foram estruturados para corresponder aos cinco artigos da Remonstrância de 1610. A terceira e a quarta seções foram combinados em uma só porque os teólogos de Dort consideraram-nas inseparáveis e, por isso, designaram-nas como “Terceiro e Quarto Capítulos de Doutrina”.

Os cânones são únicos por causa de seu papel como decisão judicial na controvérsia arminiana. O prefácio original chamava-os de um “julgamento em que o verdadeiro ponto de vista, em harmonia com a Palavra de Deus, a respeito dos cinco pontos de doutrina antes mencionados é explicado e o falso ponto de vista, discordante da Palavra de Deus, é rejeitado”. Cada seção do documento inclui uma parte positiva e uma negativa – uma exposição da doutrina reformada sobre o assunto e uma rejeição correspondente dos erros arminianos. No todo, os cânones contêm cinquenta e nove artigos de exposição e trinta e quatro de rejeições de erros. Juntos, eles formam um documento equilibrado, com base bíblica, sobre doutrinas especificas.

Os cânones são o único documento entre as Três Formas da Unidade que foi escrito por uma assembleia eclesiástica e o único que representava o ponto de vista de todas as igrejas reformadas da época. Todos os delegados holandeses e estrangeiros assinaram os cânones. Depois, eles se uniram em um culto de ações de graças para louvor a Deus por preservar a doutrina da graça soberana nas igrejas reformadas.

(*) Texto extraído do livro: Vivendo para a Glória de Deus – Uma Introdução à Fé Reformada. Escrito por Joel R. Beeke. Publicado Fiel Editora.

AZUSA STREET: A CHAMA QUE SE ESPALHOU PELO MUNDO

2 fev

Azusa-Street-MissionINTRODUÇÃO: O Movimento Pentecostal,  originado na Azusa Street em Los Angeles, foi um dos mais importantes movimentos ocorridos no seio cristão nos séculos posteriores a Reforma.

Escrevendo sobre o Movimento Pentecostal, Richard Foster disse: “Foi uma explosão de fervor carismático e de poder do Espírito Santo, na melhor e mais poderosa forma”[1].

          Alister McGrath também falou sobre este Movimento. Ele escreveu: “No século XX, um dos acontecimentos mais importantes para o cristianismo foi o surgimento de grupos carismáticos e pentecostais, os quais afirmam que o cristianismo pode redescobrir e tomar posse do poder do Espírito Santo…”[2].

          No entanto, a importante e bonita história deste movimento tem sido negligenciada pelos seus herdeiros. Creio que se faz necessário estudarmos um pouco este movimento.

EUA DO INÍCIO DO SÉCULO XX

          Conhecendo a história do Movimento Pentecostal e conhecendo a conjuntura política e social do EUA no início do século XX, podemos afirmar que este movimento ocorreu por uma ação divina. Como em boa parte do mundo ocidental, havia uma segregação racial muito forte nos EUA. Negros eram proibidos de compartilhar o mesmo ambiente que os brancos. Lembremos que esta situação só começou a ser mudada nos EUA na década de 60 com Martin Luther King e outros líderes dos movimentos negros.

          Permitir que um negro assistisse a uma aula, assentado no corredor externo da sala, era um favor; um negro liderar um grupo onde houvesse brancos era algo quase que impossível. Pois bem, foi isto que Deus fez, chamando o reverendo William Seymour para liderar um grupo de irmãos, negros e brancos, na cidade de Los Angeles.

WILIAMM SEYMOR: UM LÍDER IMPROVÁVEL

          William Seymour nasceu em 2 de maio de 1870, na região pantanosa de Centerville na Lousiana, uma região que sofria a violência da Ku Klux Klan. Mais tarde, em busca de melhores oportunidades, se mudou para o Norte, em Indianapólis, onde conseguiu um emprego como garçom no restaurante de um hotel. Nesta época, algumas igrejas faziam trabalhos para alcançar os afroamericanos, seguindo as regras de segregação. Estes trabalhos preparavam líderes negros que iriam pastorear pequenas comunidades negras. Wiliam Seymour se destacou por sua dedicação e foi enviando para liderar um grupo em Houston, no Texas.

          Foi lá que ele conheceu Charles F. Parham, um evangelista e professor de Bíblia, que ensinava que o falar em línguas era uma evidência do batismo no Espírito Santo. Parham fundou uma Escola Bíblica em Houston e Seymour se matriculou na Escola, assistindo às aulas no corredor externo da sala.

          Neste tempo, a congregação que Seymour liderava recebeu a visita de uma irmã que morava em Los Angeles, a Sra. Neely Terry, que ficou impressionada com a piedade e fervor de Seymour. Voltando para sua cidade, ela relatou aos seus irmãos de grupo de oração a respeito de Seymour e convenceu seus irmãos a convidá-lo para ser seu líder. Seymour aceitou o convite e tão logo assumiu a responsabilidade começou a ensinar sobre santidade, o falar em línguas e batismo no Espírito Santo.

          Cada vez mais, as reuniões se enchiam de pessoas, a tal ponto que tiveram que alugar um galpão situado na Azusa Street. Rapidamente, este lugar se tornou um ponto de referência para pessoas de todas as partes do mundo, que concorriam para lá em busca de uma experiência pentecostal.

AZUSA STREET: UM LUGAR ESCOLHIDO POR DEUS

          Mais uma vez, cito Richard Foster, pois sua análise do que ocorreu em Azusa Street é comovente. Ele escreve:

 “Qual a causa do impacto incomum de Seymour e sua missão da Rua Azusa? As condições existentes eram exatamente o oposto do que se considerava essencial para qualquer influencia duradoura…Outros líderes, mais particularmente Charles Parham, haviam enfatizado a glossolalia como experiência valiosa para a igreja atual. Esses líderes tinham mais recursos e muito mais contatos que Seymour. Mas foi na Rua Azusa que o poder caiu, e foi de lá que veio a influência mais profunda e mais ampla do que de qualquer outro lugar. Por quê? A única resposta completa a essa pergunta naturalmente só pode ser encontrada na sabedoria da providência divina. A Rua Azusa foi uma obra sobrenatural, uma obra no poder do Espírito, uma obra carismática. Deus escolheu de acordo com sua vontade o insignificante, o desprezível e o tolo para demonstrar sua glória”[3].

DECLÍNIO, DIVISÕES E LEGADO

          O grande impacto do movimento começou a declinar e as divisões começaram quando Seymour, acreditando na importância do movimento para diminuir a segregação racial, convidou Parham para liderar, junto com ele, uma campanha em Los Angeles. Ao chegar lá, Parham ficou incomodado em ver os negros fora de seus lugares determinados pelas leis de segregação. Repreendeu Seymour e os irmãos de Los Angeles e decidiu realizar reuniões a parte. Alguns irmãos seguiram Parham e este fez de tudo para minar a liderança de Seymour e enfraquecer o movimento da Azusa Street.

          Mesmo em declínio, o movimento enviou muitos líderes ao redor do mundo, que espalharam o que haviam recebido em Azusa Street. Estes líderes fundaram denominações que conservam o legado, ou parte dele, até os dias de hoje.

CONCLUSÃO: Certamente que muitos podem discordar de alguns pontos do Movimento Pentecostal, especialmente quando usam os exageros de hoje para condenar todo o movimento. Mas a bonita e comovente história da origem do movimento e sua abrangência nos confirmam que Deus, mais uma vez, como fez em outros momentos, sacudiu as águas para um despertar de sua Igreja. O Movimento Pentecostal se espalhou para diversas direções e sofreu drásticas mudanças, algumas ruins e outras boas, como a sua aproximação com as doutrinas reformadas. Como afirmou recentemente o Pastor Hernandes Dias Lopes, numa entrevista: “Esta junção da Teologia Reformada com a unção, o fervor Pentecostal, isso é uma coisa fenomenal”[4]. Oremos e trabalhemos para que Deus, em sua Graça e Poder, escreva novos e maravilhosos capítulos na história de sua Igreja.

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Canal Youtube do Autor: https://www.youtube.com/channel/UC6uktE6fFEWg9l0bX-S7_LQ

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[1] FOSTER RICHARD, Rios de Água Viva. Editora Vida.

[2] McGrath ALISTER, Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica. Shedd Publicações.

[3] FOSTER RICHARD, Rios de Água Viva. Editora Vida.

[4] Vídeo disponível no YouTube.

A BANALIZAÇÃO DA CERIMÔNIA DO CASAMENTO

30 dez

casamento bibliaCasei-me há quase 30 anos atrás, antes que as cerimônias de casamento se tornassem um grande negócio, que movimenta bilhões de dólares todos os anos. Hoje há cerimônias de casamento para todos os gostos, mas uma pergunta que faço é: Será que o cristão deve se render ao encanto das cerimônias mirabolantes ou enxergar a cerimônia como um culto a Deus?

Penso que a cerimônia de casamento é um culto a Deus e deve ser prioritariamente realizada no Templo, lugar que nos chama a reverência e a contemplação. Já realizei algumas cerimônias em salões de festas e sítios, mas vejo que estes lugares se tornam um convite à dispersão. Por isso que adotei como regra realizar as cerimônias no templo.

Concordo com as palavras de James K. A. Smith que diz: “Passamos mais tempo concentrados no brilho espetacular da cerimônia de casamento que no árduo trabalho para manter um casamento”.

É necessário separar a cerimônia/culto de casamento da festa de casamento. A primeira, em minha opinião, deve ser realizada no templo, com a troca dos votos, sendo regada com orações e as bênçãos sacerdotais. Quanto à festa, você pode planejá-la da maneira que julgar melhor, mas não se esquecendo do testemunho cristão e de forma que complemente tudo que aconteceu no templo.

 

CHEIOS DO ESPÍRITO OU EMBRIAGADOS DE VAIDADES?

26 dez

de-joelhos-orandoA experiência pentecostal é algo maravilhoso quando tem como base o solo da Sã Doutrina. Podemos afirmar que as grandes manifestações do Espírito Santo, especialmente o Dia de Pentecostes, foram seguidas de fortes exposições doutrinárias a respeito de Cristo e sua obra. Desde o princípio, a experiência pentecostal foi confundida, por quem não é guiado pelo Espírito, com algum tipo de embriaguez. Foi isto que pensaram os expectadores do Pentecostes, dizendo que os cristãos que falaram em outras línguas estavam bêbados. Pedro teve que intervir e dizer: “estes homens não estão bêbados, como vocês supõem”(At 2:15).

No entanto, podemos dizer que pessoas podem ser levadas por uma embriaguez de suas vontades, de seus orgulhos, de suas vaidades e atribuir ao Espírito àquilo que não vem do Espírito. Basta uma pesquisa na internet para vermos absurdos que são feitos em nome do Espírito Santo. Paulo constatou que a igreja de Corinto parecia ser muito espiritual, mas na verdade era uma igreja cheia de divisões, contendas e até pecados graves. Infelizmente, ainda hoje, é isto que ocorre em muitos arraiais evangélicos que tentam passar uma aparência de igrejas cheias do Espírito, mas no fundo são igrejas marcadas por divisões e intrigas graves.

A Bíblia é clara quando diz que a “manifestação do Espírito Santo sempre visa um fim proveitoso”. Deus realiza tudo para sua Glória e Louvor. O Espírito Santo não é um agente de loucuras e confusão, sua ação tem como finalidade o crescimento e fortalecimento da Igreja de Deus. Criando em nós um temor crescente que nos leva a uma vida santificada e um desejo de proclamar o evangelho da salvação ao mundo perdido. Onde o poder do Espírito chega o poder da carne diminui. Paulo declarou que se andarmos no Espírito não satisfaremos a vontade da carne (Gl.5:16).

Cuidado com a embriaguez da vaidade e do orgulho, que brota e floresce no solo do desconhecimento bíblico/doutrinário. A verdadeira experiência pentecostal é algo maravilhoso, pois infunde no homem poder e unção para uma vida cristã mais plena e santa. Sim, “não vos embriagueis com o vinho (da vaidade e do orgulho), mas enchei-vos do Espírito”.

COMO FOI O CULTO?

1 nov

de-joelhos-orandoEsta é uma pergunta que os cristãos costumam fazer entre si. Eu mesmo já a fiz muitas vezes, mas queria refletir sobre as motivações que nos levam a fazer esta pergunta. Podemos, sem perceber, está alimentando um modo de avaliação não muito saudável à fé.

Basicamente, há duas intencionalidades possíveis ao fazermos esta pergunta:

Culto Performance

Vivemos numa sociedade que aprendeu a avaliar todas as coisas que a cercam, a medir, a quantificar e qualificar tudo e todos. Avaliamos os atores, jogadores, os professores, obviamente que isto tem o seu valor, mas acabamos levando esta cultura da avaliação da performance para dentro dos cultos e achamos que podemos medir o culto. Mas a pergunta é: Quem, de fato, pode medir o culto? Avaliá-lo? Somente Deus!

Dallas Willard, em seu livro: “A Renovação do Coração”, adverte-nos dizendo: “Ao nos reunirmos em nossos cultos, porém, não devemos ir para ver como o orador e outros líderes se saem. Não estamos lá para conferir suas performances. Vamos à congregação para encontrar a presença da Trindade e para nos manter em seu interior. Essa é a nossa expectativa”. Talvez, seja por esta expectativa criada que muitos cultos estão se assemelhando, mais e mais aos shows. Pastores querem se superar; grupos musicais querem se superar, com a argumentação de: “queremos dar o melhor para Deus”, mas será esta mesma a motivação? Mais uma vez cito Willard para despertar-nos de que este não deve ser o caminho. Ele diz: “O ministro não precisa de truques e técnicas, precisa apenas falar a palavra de Cristo com base no caráter dele, permanecendo na presença manifesta de Deus”.

Culto verdadeiro a Deus

Certamente que a Bíblia nos orienta, de forma básica, como deve ser o culto. Algo racional, ordeiro, decente, que favoreça a comunhão dos irmãos, com a finalidade de lembrar e exaltar a pessoa e obra de Cristo. Creio que ao invés de perguntarmos como foi o culto, o mais certo seria perguntar: “COMO FOI O SEU CULTO PARA DEUS?”.

No meio de uma multidão, Deus sempre estará interessado na nossa adoração particular, em nosso coração. Muito mais do que um coral bem ensaiado; um pregador com uma oratória bem trabalhada; Deus estará interessado se aquilo que falamos ou cantamos foi sincero. Esta foi a sua queixa por meio do profeta Isaías: “O Senhor disse: visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim” (29:13).

O culto verdadeiro a Deus consiste na entrega do nosso coração à Ele, tudo o que somos deve ser depositado ao seus pés.

Conclusão

“Como foi o culto?” a resposta mais sincera deveria ser: “não tenho como avaliar plenamente”, mas uma coisa posso afirmar: “o MEU culto a Deus foi sincero, pois lhe entreguei todo o meu coração”. Que o Senhor nos livre dos cultos “performáticos” e nos conceda corações quebrantados e contritos, pois estes Ele não despreza!

Obras Meritórias e Obras Probatórias

27 jul

fe_obrasINTRODUÇÃO: A carta de Tiago, especialmente o capítulo 2, tem sido usada por muitos como uma contestação a doutrina da justificação pela fé e isto não vem de hoje. Por conta disto, o reformador Lutero tinha uma baixa consideração por esta carta. Mas será que o ensino de Tiago contesta o ensino de Paulo? Obviamente que não, pois o Autor da Bíblia é um somente e Ele não é Deus de confusão. Então se faz necessário compreendermos o que os apóstolos queriam dizer. Será que ao usar a palavra FÉ e OBRAS eles usam com a mesma finalidade e contexto?

INTENÇÃO DOS APÓSTOLOS

A primeira coisa que devemos destacar é que Tiago escreve sua carta com a finalidade de instruir de forma prática os fieis, objetivando mais o dia a dia da igreja, do que a formação doutrinária da mesma. Antes de falar sobre fé e obras, ele ataca o problema da acepção de pessoas; e depois fala do problema de maledicência e fofoca no meio da igreja. Enquanto a intenção do apóstolo Paulo é formar o conceito doutrinário a respeito da justificação do pecador perante Deus, por isso ele afirma que a salvação/justificação do pecador ocorre pela graça, mediante a fé, sem considerar os méritos das obras humanas.

Note que Tiago fala da FÉ num contexto negativo, da fé que as pessoas dizem ter, mas não tem. Por isso ele afirma que está fé é morta, é inoperante, consequentemente, é falsa. Esta não é a mesma FÉ que Paulo usa em seus escritos, pois a FÉ que é despertada em nós, por obra do Espírito Santo nunca deixa de produzir obras/frutos para glória de Deus.

OBRAS MERITÓRIAS E OBRAS PROBATÓRIAS

Outra distinção importante que devemos fazer é a respeito das obras que Tiago tem em mente quando escreve o seu texto e as obras que Paulo cita. Creio que para compreendermos melhor esta distinção devemos adjetivar as obras citadas por Tiago como OBRAS PROBÁTORIAS e as de Paulo como OBRAS MERITÓRIAS.

Fica bem claro nas exposições que Paulo faz da doutrina da justificação dos santos que as obras não podem ser contadas como MÉRITO para nossa salvação. Por isso ele afirma em Efésios (2:9): “Não por obras, para que ninguém se glorie”. No entanto, ele não descarta o uso das obras como PROVA da nossa salvação, quando, no verso seguinte, afirma: “Somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras”.

Tiago, em seu texto, está usando a palavra “OBRAS” para afirmar que aqueles que foram justificados por Cristo Jesus, PROVAM a fé que tem, de fato, por meio das obras (probatórias). As obras, como mérito, não são a razão da nossa salvação, mas é por meio das obras, como provas, que mostramos a presença de Cristo em nossos corações. Nas Institutas, João Calvino escreve: “Tiago não está discutindo de que maneira são justificados, mas está exigindo dos fiéis uma justiça que produza obras” e acrescenta: “Tiago não admite que sejam tidos por justos os que não produzem boas obras”[1]. Fica claro que o apóstolo Tiago está falando de Obras probatórias e não meritórias.

DUAS FORMAS DE FALAR A MESMA VERDADE

Podemos afirmar que não há discordância entre o que Paulo e Tiago ensinam. Eles estão falando a mesma verdade, apenas de forma diferente. Enquanto um diz que “Não por Obras”, focando o mérito da nossa salvação; Tiago diz: “Não sem obras”, focando os frutos, as consequências de nossa salvação. Volto a afirmar, a preocupação de Tiago era enfatizar a relação da Fé e Obras num contexto mais prático, enquanto Paulo enfatiza a mesma verdade, mas sua prioridade foi realçar o contexto doutrinário desta mesma verdade.

CONCLUSÃO: Portanto, não há controvérsia nenhuma entre o que Paulo e Tiago escrevem. Nosso Deus não é de confusão. Somente aqueles que foram salvos em Cristo Jesus, mediante a fé, podem produzir obras agradáveis a Deus, que comprovam a sua fé.

Cremos que o único homem que pôde agradar a Deus por suas obras foi Cristo Jesus; e é somente nas obras realizadas por Cristo, sua obediência, sua santidade, seu sacrifício, que podemos ser salvos. A doutrina da justificação mostra que a fé é a causa das obras, não o contrário. A única maneira de honrar a Jesus totalmente é atribuir a ELE todo o MÉRITO de nossa justificação. Não há mérito em nossas obras para a nossa salvação, somente nas dEle!

[1] João Calvino, As Institutas, Vol.3,Cap.XVII,12

DESAPRISIONE O EVANGELHO

19 jul

Agnaldo3.jpgDiversas vezes na história, houve tentativas de aprisionar o Evangelho de Cristo e até mesmo matá-lo. Podemos ver isto no livro de Atos, onde os discípulos foram perseguidos, ordenados a não falar a respeito de Jesus e até mesmo mortos por sua fé. Ainda hoje, as mesmas coisas acontecem em diversos cantos do mundo.

Mas há outro perigo, que envolve a própria Igreja, quando alguns grupos, segmentos da mesma, tentam se apropriar do Evangelho dizendo: “Ele é meu e os outros estão errados”. Vivemos o tempo onde o Evangelho tem sido aprisionado, cada vez mais, aos templos, aos lugares sagrados, no entanto, vemos claramente que além destes lugares, o Evangelho gosta de visitar os hospitais, as prisões, as ruas, os lares, as estradas. Paulo aproveitou sua prisão para anunciá-lo ao carcereiro; Filipe foi anunciá-lo ao Etíope numa estrada empoeirada; Pedro foi conduzido para evangelizar Cornélio e sua família.

Creio que além do prazer de viver o Evangelho de Cristo nos templos, devemos, também, levá-lo ao cafezinho do trabalho; ao caminho dos quem vem e vão; aos leitos dos moribundos. A genuína fé em Cristo provoca transbordamento, revela-se em nossos olhos, palavras sentimentos e ações. Não podemos nos contentar com menos do que isto!