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Pentecostalismo Reformado – Dicas de Livros

18 fev

Uma coleção de vídeos onde Pastor Josenildo Santos indica autores e livros que podem cooperar na aproximação entre cristãos da tradição Reformada e cristãos da tradição Pentecostal.

Para acessar clique no link: https://www.youtube.com/watch?v=XWnU1QqSchA&list=PLVR8B9eTqXUZEmL5mv154eJMihmhdnJDY

AZUSA STREET: A CHAMA QUE SE ESPALHOU PELO MUNDO

2 fev

Azusa-Street-MissionINTRODUÇÃO: O Movimento Pentecostal,  originado na Azusa Street em Los Angeles, foi um dos mais importantes movimentos ocorridos no seio cristão nos séculos posteriores a Reforma.

Escrevendo sobre o Movimento Pentecostal, Richard Foster disse: “Foi uma explosão de fervor carismático e de poder do Espírito Santo, na melhor e mais poderosa forma”[1].

          Alister McGrath também falou sobre este Movimento. Ele escreveu: “No século XX, um dos acontecimentos mais importantes para o cristianismo foi o surgimento de grupos carismáticos e pentecostais, os quais afirmam que o cristianismo pode redescobrir e tomar posse do poder do Espírito Santo…”[2].

          No entanto, a importante e bonita história deste movimento tem sido negligenciada pelos seus herdeiros. Creio que se faz necessário estudarmos um pouco este movimento.

EUA DO INÍCIO DO SÉCULO XX

          Conhecendo a história do Movimento Pentecostal e conhecendo a conjuntura política e social do EUA no início do século XX, podemos afirmar que este movimento ocorreu por uma ação divina. Como em boa parte do mundo ocidental, havia uma segregação racial muito forte nos EUA. Negros eram proibidos de compartilhar o mesmo ambiente que os brancos. Lembremos que esta situação só começou a ser mudada nos EUA na década de 60 com Martin Luther King e outros líderes dos movimentos negros.

          Permitir que um negro assistisse a uma aula, assentado no corredor externo da sala, era um favor; um negro liderar um grupo onde houvesse brancos era algo quase que impossível. Pois bem, foi isto que Deus fez, chamando o reverendo William Seymour para liderar um grupo de irmãos, negros e brancos, na cidade de Los Angeles.

WILIAMM SEYMOR: UM LÍDER IMPROVÁVEL

          William Seymour nasceu em 2 de maio de 1870, na região pantanosa de Centerville na Lousiana, uma região que sofria a violência da Ku Klux Klan. Mais tarde, em busca de melhores oportunidades, se mudou para o Norte, em Indianapólis, onde conseguiu um emprego como garçom no restaurante de um hotel. Nesta época, algumas igrejas faziam trabalhos para alcançar os afroamericanos, seguindo as regras de segregação. Estes trabalhos preparavam líderes negros que iriam pastorear pequenas comunidades negras. Wiliam Seymour se destacou por sua dedicação e foi enviando para liderar um grupo em Houston, no Texas.

          Foi lá que ele conheceu Charles F. Parham, um evangelista e professor de Bíblia, que ensinava que o falar em línguas era uma evidência do batismo no Espírito Santo. Parham fundou uma Escola Bíblica em Houston e Seymour se matriculou na Escola, assistindo às aulas no corredor externo da sala.

          Neste tempo, a congregação que Seymour liderava recebeu a visita de uma irmã que morava em Los Angeles, a Sra. Neely Terry, que ficou impressionada com a piedade e fervor de Seymour. Voltando para sua cidade, ela relatou aos seus irmãos de grupo de oração a respeito de Seymour e convenceu seus irmãos a convidá-lo para ser seu líder. Seymour aceitou o convite e tão logo assumiu a responsabilidade começou a ensinar sobre santidade, o falar em línguas e batismo no Espírito Santo.

          Cada vez mais, as reuniões se enchiam de pessoas, a tal ponto que tiveram que alugar um galpão situado na Azusa Street. Rapidamente, este lugar se tornou um ponto de referência para pessoas de todas as partes do mundo, que concorriam para lá em busca de uma experiência pentecostal.

AZUSA STREET: UM LUGAR ESCOLHIDO POR DEUS

          Mais uma vez, cito Richard Foster, pois sua análise do que ocorreu em Azusa Street é comovente. Ele escreve:

 “Qual a causa do impacto incomum de Seymour e sua missão da Rua Azusa? As condições existentes eram exatamente o oposto do que se considerava essencial para qualquer influencia duradoura…Outros líderes, mais particularmente Charles Parham, haviam enfatizado a glossolalia como experiência valiosa para a igreja atual. Esses líderes tinham mais recursos e muito mais contatos que Seymour. Mas foi na Rua Azusa que o poder caiu, e foi de lá que veio a influência mais profunda e mais ampla do que de qualquer outro lugar. Por quê? A única resposta completa a essa pergunta naturalmente só pode ser encontrada na sabedoria da providência divina. A Rua Azusa foi uma obra sobrenatural, uma obra no poder do Espírito, uma obra carismática. Deus escolheu de acordo com sua vontade o insignificante, o desprezível e o tolo para demonstrar sua glória”[3].

DECLÍNIO, DIVISÕES E LEGADO

          O grande impacto do movimento começou a declinar e as divisões começaram quando Seymour, acreditando na importância do movimento para diminuir a segregação racial, convidou Parham para liderar, junto com ele, uma campanha em Los Angeles. Ao chegar lá, Parham ficou incomodado em ver os negros fora de seus lugares determinados pelas leis de segregação. Repreendeu Seymour e os irmãos de Los Angeles e decidiu realizar reuniões a parte. Alguns irmãos seguiram Parham e este fez de tudo para minar a liderança de Seymour e enfraquecer o movimento da Azusa Street.

          Mesmo em declínio, o movimento enviou muitos líderes ao redor do mundo, que espalharam o que haviam recebido em Azusa Street. Estes líderes fundaram denominações que conservam o legado, ou parte dele, até os dias de hoje.

CONCLUSÃO: Certamente que muitos podem discordar de alguns pontos do Movimento Pentecostal, especialmente quando usam os exageros de hoje para condenar todo o movimento. Mas a bonita e comovente história da origem do movimento e sua abrangência nos confirmam que Deus, mais uma vez, como fez em outros momentos, sacudiu as águas para um despertar de sua Igreja. O Movimento Pentecostal se espalhou para diversas direções e sofreu drásticas mudanças, algumas ruins e outras boas, como a sua aproximação com as doutrinas reformadas. Como afirmou recentemente o Pastor Hernandes Dias Lopes, numa entrevista: “Esta junção da Teologia Reformada com a unção, o fervor Pentecostal, isso é uma coisa fenomenal”[4]. Oremos e trabalhemos para que Deus, em sua Graça e Poder, escreva novos e maravilhosos capítulos na história de sua Igreja.

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Canal Youtube do Autor: https://www.youtube.com/channel/UC6uktE6fFEWg9l0bX-S7_LQ

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[1] FOSTER RICHARD, Rios de Água Viva. Editora Vida.

[2] McGrath ALISTER, Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica. Shedd Publicações.

[3] FOSTER RICHARD, Rios de Água Viva. Editora Vida.

[4] Vídeo disponível no YouTube.

DIÁLOGO ENTRE AS TRADIÇÕES PENTECOSTAL E A REFORMADA

29 maio

santo-agostinhoIntrodução: Certa vez,  minha sobrinha, que pertence a uma igreja reformada, ao ler alguns artigos que escrevi, abordou-me: “Tio, você é pentecostal, mas cita muitos autores reformados”, então, respondi que a denominação da qual faço parte, de tradição pentecostal, estava abraçando algumas doutrinas reformadas. Sua resposta final foi: “Que lindo!”.

É cada vez mais crescente o número de pentecostais que busca entender as doutrinas reformadas. Tenho o privilégio de estar sob uma liderança que tem me instruído a buscar esta aproximação. Bispo Walter McAlister tem sido um dos instrumentos de Deus para promover esta convergência entre as tradições pentecostal e a reformada e, certamente é uma das pessoas mais qualificadas para falar sobre o assunto, tendo publicado diversos vídeos em seu canal no Youtube[1] , ministrou um excelente curso para abordar este tema (o curso pode ser encontrado no site www.annodomini.com.br com o nome de Pentecostal Reformado) que se transformou em livro (O Pentecostal Reformado) publicado pela Editora Vida Nova.

Num de seus vídeos, Bispo Walter McAlister define assim, o que é um pentecostal reformado: “é alguém que afirma as suas origens, não tem vergonha das suas origens, mas que está disposto a repensar tudo, à luz das Escrituras, está em constante avaliação de si mesmo, de suas tradições e de sua história recente, mas que abraça firmemente as Doutrinas da Graça, o fato de que Deus é Soberano e que somos salvos pela Graça de Deus somente”[2].

Confesso que meu primeiro contato com as doutrinas reformadas não foi fácil. Termos como: Depravação Total, Eleição incondicional, Expiação Limitada, Graça irresistível e Perseverança dos Santos não são fáceis de serem digeridos, especialmente para quem nasceu na tradição pentecostal. É necessário ler e reler estes conceitos para entendê-los melhor e perceber a ligação entre eles. Depois de muita leitura, hoje já posso entender a coerência e a finalidade principal da teologia reformada, que busca primordialmente a glória de Deus.

TRADUTIBILIDADE POSSÍVEL

É possível ser pentecostal e reformado? A grande maioria responde com um sonoro “Não”. Realmente, buscar a aproximação entre duas tradições é algo ingrato, é preparar-se para ouvir críticas de ambos os lados. Mas deixe-me usar um conceito do filósofo Alasdair MacIntyre que trata da possibilidade de aproximação de tradições filosóficas diferentes, ele diz:

“A compreensão de uma tradição pelos adeptos de outra pode implicar uma série de tipos diferentes de resultado: compreender pode implicar a rejeição imediata a respeito daquilo sobre o que divergiam; ou pode levar à conclusão de que as questões que separam as duas tradições não podem ser resolvidas; e, em casos raros, mais cruciais, como já observamos, compreender pode levar ao julgamento de que, pelos padrões da tradição de alguém, a posição da outra tradição oferece recursos superiores para a compreensão dos problemas e das questões que sua própria tradição enfrenta”[3].

Obviamente a preocupação do filósofo refere-se às tradições filosóficas, mas creio que podemos usar a sua ideia, especialmente na parte final da citação, para aplicarmos ao diálogo entre as tradições pentecostal e a reformada.

Em primeiro lugar, creio que a tradição pentecostal deve reconhecer que existem recursos, na tradição reformada, que são superiores e podem auxiliá-la a progredir. Alguns destes recursos são: sua organização; seu sistema teológico bem definido e conhecido; seu rigor no trato com o texto bíblico, usando o método hermenêutico histórico-gramatical; sua valorização à pregação expositiva; e, especialmente, as suas confissões de fé e seus catecismos, como o de Westminster. Certamente que a Tradição Pentecostal tem sido importante para a expansão do Evangelicalismo no Brasil (e no mundo), mas carece de uma melhor formulação teológica, pois se utiliza, de forma acentuada, do método alegórico em suas pregações.

Sem este reconhecimento, de que a Tradição Pentecostal deve buscar estes recursos, a aproximação  entre estas tradições não avançará. Mas, uma vez que isto seja feito, o próximo passo deve ser a busca de uma tradutibilidade destes recursos e doutrinas para dentro da Tradição Pentecostal. Essa tradutibilidade é algo semelhante ao que ocorre na tradução de um texto de uma língua para outra. Existem palavras que têm seus correspondentes na outra língua e casos que não terão. Há conceitos e práticas, da Tradição Reformada, que deverão ser acomodadas como são e outros que sofrerão alterações para serem inseridos na Tradição Pentecostal. Talvez isto provoque a criação de neologismos para expressar bem o que se quer dizer.

AMEAÇAS AO DIÁLOGO

Certamente que esta não é uma tarefa fácil e admiro aqueles que se propõem a assumir o  risco de buscar este entendimento, mas para que este diálogo avance é necessário destacarmos as ameaças que tentam impossibilitar o mesmo. Vejamos:

Falta de abertura para o conhecimento: Será impossível o entendimento das doutrinas da graça se não criarmos em nós uma abertura para conhecê-las, como elas se apresentam. A discordância por antipatia é um caminho mais fácil do que a discordância por conhecimento. É importante conhecer para dizer que não concorda. É importante que o pentecostal, ao decidir se aproximar da teologia reformada, faça isto com o intuito de entendê-la bem, tanto naqueles pontos mais fáceis de serem abraçados, quanto naqueles que, possivelmente, serão rejeitados. Para isto é necessário ler e ouvir bons autores, estando com coração aberto. Destaco alguns (certamente que a lista pode ser ampliada e melhorada) que apresentam bem a Tradição Reformada: João Calvino, Martinho Lutero, J.I.Packer, R.C.Sproul, John Owen, C.H.Spurgeon, Augustus Nicodemus. E, mais precisamente, a respeito do assunto pentecostal reformado sugiro o livro “O Pentecostal Reformado” do Bispo Walter McAlister.

A rabugência dos neo-reformados: É comum quando alguém começa a se identificar com as doutrinas reformadas, achar que aqueles que não concordam com a mesma se tornam um bando de ignorantes e hereges. Alto lá! O espectro teológico-cristão é amplo, compreendendo tradições que vão desde os Coptas até uma igreja que surge na atualidade. Devemos ser fraternos com todos os irmãos, mesmo com aqueles que não abraçam a mesma visão teológica nossa. As piadas nas redes sociais, as ofensas gratuitas, a critica superficial em nada contribui para esta boa convivência de tradições. Vejo com muito pesar este tipo de ações. Recentemente, um querido pastor amigo, ficou muito irritado com um site que usou colocações suas para fazer piadas com outra tradição teológica. Não existe grupo perfeito neste campo, todos devemos manter o respeito e a boa convivência com irmãos de outras tradições.

A timidez na promoção deste diálogo: É necessário que aqueles que possuem maturidade para ajudar no diálogo entre pentecostais e reformados façam isto, vencendo a timidez e/ou medo de serem criticados. Conheço irmãos piedosos e capacitados que podem publicar e disseminar esta ideia. A necessidade é grande que homens de Deus, que vivem esta realidade de serem Pentecostais e, ao mesmo tempo, se identificam com Tradição Reformada, se apresentem e falem mais sobre este diálogo. Mais uma vez, quero agradecer o esforço do Bispo Walter McAlister em iniciar este processo dentro de nossa denominação e se apresentar publicamente como um propagador deste diálogo.

CONCLUSÃO

O futuro é algo difícil de prever, mas o que se espera é que esta busca pela teologia reformada, por parte dos pentecostais, produza uma maturidade espiritual e teológica e, ao mesmo tempo, faça diminuir alguns excessos que ocorrem neste segmento da Igreja Brasileira. As primeiras sementes estão sendo plantadas, há muitos jovens pentecostais que estão com sede de uma teologia e de um conhecimento mais consistente. Reafirmamos que a Tradição Pentecostal é e continuará sendo de extrema importância para a expansão do Evangelho, mas acreditamos que este movimento de pentecostais que abraçam as doutrinas da graça continuará crescendo e por isso precisamos preparar  o caminho, criar materiais: livros, confissões de fé, catecismos que definam bem o que é ser um pentecostal reformado, para que este crescimento seja realmente saudável e produza glória e honra ao Deus Soberano, seguindo o lema dos reformadores: “Ecclesia reformata et semper reformanda est”[4]!

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Canal Youtube do Autor: https://www.youtube.com/channel/UC6uktE6fFEWg9l0bX-S7_LQ

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[1] O nome do canal é: Bispo Walter McAlister

[2] Pesquisado em https://www.youtube.com/watch?v=7bZOr5etz94 Neste link o Bispo Walter McAlister responde a pergunta “O que é um pentecostal reformado?”

[3] MACINTYRE Alasdair, Justiça de quem? Qual Racionalidade?, Edições Loyola, pg.397

[4] Igreja Reformada está sempre se reformando